Chegámos ao labirinto dos possessos: o medo invade-me as palavras que deixei para trás como criaturas de cristal reciclado. O meu instinto é uma faca de passados agonizantes e a minha boca a rosa sem escrúpulos em que cravaste os dentes. O segredo entre nós é uma visão de tamanho complexo, uma algaraviada de crianças enforcadas em sonhos de papel. Tu e eu, sozinhos, somos o disco de um calor central, o recado colorido de azedas e compaixões na noite fria. As curvas e contracurvas moldam-nos as mãos em entes afiados, em sombras do avesso que levamos de encontro ao peito. Mas não adianta descansar porque o presente é um terramoto indispensável de feras a braços com corações. Os olhos que não tenho mostram-me o sonho que não foste. E acomodo as lágrimas algures num cantinho do peito, algures entre a seta desfiada e a colisão. Se ao menos o meu grito destruísse paredes concretas podia morrer de novo no mundo, mas a sensação é apenas grande o suficiente para salvar um de nós. É preciso afogar os gestos antes que tomem forma no real. É preciso cravar as superfícies de rodas dentadas de esquecimento. É preciso ver ossos e deformação, ver o nosso amor de dentro para fora como se dele dependesse o esqueleto harmónico do tempo. É preciso criar uma nova competência, um molde aproximado do cheiro que somos os dois. E ainda assim não basta para nos aquecer…
Tenho medo. Medo como o som da noite escura contra os músculos e a pele. Medo como as raízes se afundam no mar de solidão inquieta. Sento-me no chão e debaixo de mim sinto o mundo respirar – por entre os meus dedos passa o sopro da eternidade e na palma da minha mão crescem rugas de estremecimento. Se ao menos uma vez o amor fosse um monstro mais feliz! Mas a verdade é que na cantilena da manhã de outrora o teu sorriso era uma mágoa aberta para o mundo e o meu desejo apenas uma inspiração. Nesse entretanto nem a brisa morna dos sexos nos trazia a chave de um futuro imaculado em caramelo e margaridas. Porque no fundo nem todos os malmequeres do mundo chegavam para suportar o peso que trazíamos junto aos calcanhares, os grilhões de febre que empunhávamos na cabeça e exibimos como coroas de um milagre mais feliz. Éramos tolos, tolos como as sementes descascadas do sangue que secou, como as promessas tecidas na imensidão de um beijo em segredo. No entanto, ainda acreditávamos no amor…
Tenho medo. Medo como o som da noite escura contra os músculos e a pele. Medo como as raízes se afundam no mar de solidão inquieta. Sento-me no chão e debaixo de mim sinto o mundo respirar – por entre os meus dedos passa o sopro da eternidade e na palma da minha mão crescem rugas de estremecimento. Se ao menos uma vez o amor fosse um monstro mais feliz! Mas a verdade é que na cantilena da manhã de outrora o teu sorriso era uma mágoa aberta para o mundo e o meu desejo apenas uma inspiração. Nesse entretanto nem a brisa morna dos sexos nos trazia a chave de um futuro imaculado em caramelo e margaridas. Porque no fundo nem todos os malmequeres do mundo chegavam para suportar o peso que trazíamos junto aos calcanhares, os grilhões de febre que empunhávamos na cabeça e exibimos como coroas de um milagre mais feliz. Éramos tolos, tolos como as sementes descascadas do sangue que secou, como as promessas tecidas na imensidão de um beijo em segredo. No entanto, ainda acreditávamos no amor…